Conservadores-de-gravatinha-borboleta desprezam o conservadorismo do populacho

 

Bem, amigos, 2018 mal começou e já vemos, com suas expressões de nojinho, os conservadores-de-gravatinha-borboleta espraiando nas páginas da grande mídia uma espécie de entreguismo acadêmico sofisticado sobre as eleições de 2018.

Tudo porque, obviedade das obviedades, no País que foi dominado pela esquerda décadas a fio, não foi possível criar, da noite para o dia, a estrutura institucional (partidos, entidades, espaço na academia) que a esquerda tem de sobra.

Não, não temos partidos conservadores. Não, não temos uma quantidade suficiente de conservadores com viabilidade eleitoral para nos representar no Congresso.

Porém, pela primeira vez, talvez desde Carlos Lacerda, temos um pré-candidato à Presidência que não tem medo de assumir, integralmente, a pauta conservadora.

E este fato histórico extraordinário vai pautar todo o debate político nacional, gostem ou não os nossos entreguistas sofisticados de plantão – sempre prontos a jogar água gelada na cara de quem chegou aqui com alguma esperança.

Se temos um pré-candidato à Presidência assustando o establishment, à esquerda e à direita, isso se deve à força que ele conquistou junto ao povo brasileiro.

Ignorar a viabilidade de tal pré-candidato significa, inexoravelmente, desprezar a força popular que agrega tanto peso e chama tanta atenção ao seu nome. É um desprezo calculado contra um tipo de conservadorismo que emerge das arquibancadas.

Os conservadores-de-gravatinha-borboleta não se reconhecem e desprezam o conservadorismo não-sofisticado, que não foi gestado em encontros de clubes conservadores que mais parecem reuniões do Rotary Clube.

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O conservadorismo deve ser britânico, anglicano, fleumático, fumar charuto e usar gravatinha-borboleta

Acontece que, para quem entende que o conservadorismo britânico é o modelo universal máximo de conservadorismo, esse negócio de populacho empurrando a pauta conservadora soa como uma heresia (mais abaixo).

Só quero lembrar que quase na mesma época, no ano passado, conservadores-de-gravatinha-borboleta americanos – como o conservador hipster Andrew Sullivan – estavam perguntando se alguém viu a placa do caminhão que atropelou tanto democratas quanto “conservatives” que tinham nojinho do povo e de Trump.

Da mesma maneira, temos hoje no Brasil um pelotão dos conservadores de gabinete, tristes porque não são súditos da Rainha da Inglaterra, que morrem de nojo do povo, da arquibancada, da geral, e não querem “se juntar com a gentalha”.

Os conservadores-de-gravatinha-borboleta vivem de um conservadorismo acadêmico insosso que raramente vaza para além dos seus clubinhos elitistas.

E, por isso, estão horrorizados com este “conservadorismo do populacho” que jamais passou por eles e deles não têm nenhuma contribuição.

Sofisticados e elegantes, os nossos conservadores-de-gravatinha-borboleta sentem certo desprezo pelo conservadorismo escrachado, abusado, ou, para usar uma recente fala de Zuenir Ventura, “despudorado”, que emerge hoje no Brasil.

Não gostamos de cerveja quente

Outro equívoco recorrente dos conservadores-de-gravatinha-borboleta é o discurso batido de que “não temos conservadores” – “de verdade”, “genuínos”, “puro-sangue” – para nos representar ou servir como referências no Brasil.

Eles cometem o erro fatal de tomar a tradição britânica de conservadorismo como um modelo universal de conservadorismo e, por isso, nunca reconhecem as referências conservadores que emergem no Brasil como legitimamente conservadoras.

Caros conservadores-de-gravatinha-borboleta, saibam que:

Nós, brasileiros, descendentes da tradição ibérica, não gostamos de cerveja quente, não somos súditos da Rainha, não somos anglicanos e nem estoicos.

Somos católicos, socialmente expansivos, dados a superstições, cordiais (no sentido que Sérgio Buarque de Hollanda dizia, ou seja,  sociáveis como modo de defesa).

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Milorde, sinto informar, mas aqui não somos súditos da Rainha e nem gostamos de cerveja quente e, na verdade, não é Sir José, mas Seu Zé

É um erro imenso ignorar a tradição ibérica, que forja nossa herança e identidade, e querer nos importar a inglesa. É o erro recorrente que vocês cometem toda a vez que dizem desconhecer qualquer migalha de conservadorismo no Brasil.

Ora, o nosso conservadorismo terá a nossa cara e não o rosto pálido e passivo de um elegante britânico aguardando em silêncio sua estação de metrô.

Russel Kirk e Edmund Burke sabiam que não é possível exportar tradições e valores de uma sociedade para a outra, ignorando a identidade já consolidada que cada sociedade tem, que foi construída ao longo dos tempos e que jamais poderá ser remodelada.

A própria essência do conservadorismo é a negação de modelos universais para qualquer coisa. Os conservadores sabem que as respostas para os problemas humanos variam, é claro, de acordo com cada sociedade!

Da mesma maneira, nossos “conservadores” na política, nos movimentos de rua, na militância organizada, não serão a expressão do inglesismo que conservadores de gabinete veneram, mas das nossas tradições, valores e identidade nacional.

Direita da arquibancada

Somos a direita da arquibancada? Pois é essa direita da arquibancada, dos deploráveis, da galera do fundão, que fez toda a diferença nos EUA e fará toda a diferença aqui.

O populacho, a chusma, os gentios, a gentalha.

Aquela massa de carne e osso, que existe para além das redes sociais, e que faz realmente diferença no jogo político. Não os membros de clubinhos cujas análises sofisticadas não têm a repercussão de uma piada ou meme da direita escrachada.

Somos os deploráveis, somos a direita da arquibancada, somos os caras da geral, e vamos tomar tudo. As gravatinhas borboleta que fiquem chorando em Oxford.

 

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